terça-feira, 21 de setembro de 2010

Brasileiros são acusados de vender rins em esquema ilegal

Órgãos teriam sido comercializados por cerca de R$10 mil e transplantados para pacientes israelenses, em hospital da África do Sul

Cirurgiões do hospital St Augustine, de Durban, África do Sul, foram acusados de realizar transplantes ilegais de rins. As denúncias se referem a 109 operações feitas no hospital, entre 2001 e 2003, em que pessoas de baixa renda - principalmente brasileiros - eram pagos para doar seus rins a pacientes israelenses.

Segundo o jornal local The Mercury, pelo menos duas mulheres morreram após as cirurgias. O grupo Netcare, dono do hospital, teria faturado mais de 22 milhões de Randes, que equivale a cerca de R$ 5 milhões, diz o periódico.

Documentos que atestavam a relação de parentesco entre doadores e receptores, requisito na lei sul-africana, teriam sido fraudados, informa a imprensa local.

Segundo testemunhas, os receptores pagavam um valor superior a R$ 330 mil por rim, e os doadores brasileiros recebiam R$ 10 mil, enquanto os israelenses ganhavam mais de R$ 34 mil por órgão.

"Era um segredo aberto", informou uma fonte ao The Mercury. "Os hispânicos tinham um tradutor de espanhol e assistiam televisão em espanhol, enquanto os israelenses falavam em hebraico e também tinham seu tradutor. Nenhum envolvido pode dizer que ignorava o esquema de ‘rins por dinheiro"."

O Netcare enfrenta 11 acusações, incluindo falsificação, lesão corporal grave e formação de quadrilha. A primeira audiência do caso está marcada para novembro, com participação de testemunhas do Brasil e de Israel.

Dependendo do resultado do julgamento, o caso deve ser levado também à Cidade do Cabo e a Johannesburgo, onde transplantes similares também teriam ocorrido.

O Esquema

A Promotoria afirma que o CEO da Netcare, Richard Friedland, sabia dos transplantes ilegais, mas permitiu que eles continuassem.

A denúncia é de que a então coordenadora de transplantes da Netcare, Belinda Rossi, teria viajado a Israel em 2001 para sondar a possibilidade de realizar transplantes em israelenses nos hospitais do grupo.

Os doadores de rins teriam sido primeiramente recrutados de Israel, mas posteriormente, romenos e brasileiros foram convidados a fazer doações por um preço mais baixo. Tanto doadores quanto recipientes teriam assinado documentos falsos declarando ser parentes.

Outro Lado

A Netcare divulgou nota em que afirma ter auxiliado a Justiça em todas as fases da investigação, mas que nem o grupo nem Friedland são culpados das acusações.

A nota diz ainda que o Conselho da empresa "está confiante de que tanto a Netcare quanto o Dr Friedland vão conseguir derrotar as acusações que foram feitas contra eles e que Dr. Friedland continuará a desempenhar suas funções como CEO da Netcare com o mesmo empenho, distinção e dignidade pelos quais ele é bem conhecido".

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Debate: conflito entre operadoras e prestadores


Custos devem sair do cerne das negociações entre os players da saúde, dizem líderes do setor presentes no Saúde Business Forum

A relação entre as operadoras e prestadores de serviços é historicamente conflituosa. O Intercâmbio de Ideias do Saúde Business Forum discutiu o tema entre representantes de ambos os lados. Todos chegaram conclusão de que enquanto os custos forem o cerne da questão nada será resolvido.

"A discussão passa pelo modelo de remuneração e preços, mas a lógica não pode ser somente essa e, sim, a assitencial. A partir daí você quantifica e qualifica o preço", disse o diretor do hospital São Lucas de Ribeirã Preto, Pedro Palocci, que coordenou o debate.

Para o vice-presidente da rede carioca de saúde privada D"Or, Jose Roberto Guersola, o mais importante é a existência de uma relação de confiabilidade e transparência entre as partes.

Todos os presentes ao debate concordaram que a relação está melhorando, mas ainda precisa demonstrar resultados práticos. A predominância da Unimed nas relações com os prestadores de serviçoes foi outro ponto apontado como prejudicial para o mercado.

O papel da Agência Nacional de Saúde Suplementar também foi questionado.

Para assistir a entrevista com Palocci na íntegra sobre os principais aspectos do debate, clique aqui

Fonte: Saúde Bussiness Web.


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

RJ: candidatos focam em atendimento primário


Gabeira propõe unidades de diagnósticos e Cabral quer parcerias com prefeitura e triagem no atendimento

Candidato à reeleição, o peemeedebista Sérgio Cabral lidera as intenções de voto para o governo do Rio de Janeiro, de acordo com pesquisa do Ibope divulgada em 30 de agosto. Em segundo lugar está o candidato do PV, Fernando Gabeira. No setor da saúde ambos focam no atendimento primário, porém com políticas e propostas diferentes.

Conforme informações do plano de governo de Cabral, a proposta é ter uma rede de atendimento com foco nos níveis: primário, secundário e terciário, o que segundo o plano, melhoraria o atendimento nos hospitais e criaria um sistema de triagem para encaminhar o paciente de acordo com a enfermidade.

Gabeira, do PV, tem as diretrizes de seu plano discutidas por “ especialistas interessados no futuro do Rio de Janeiro” e também o programa aberto à discussão de sugestões pela sociedade. De acordo com a versão registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o foco será a criação de unidades de diagnóstico, ampliação do tratamento de doenças de média e alta complexidade, expansão de leitos e racionalização do uso de hospitais.

Conheça alguns pontos das propostas:

Sérgio Cabral (PMDB)

  • Divisão do atendimento e formação de uma rede em três níveis: primário, secundário e terciário, com objetivo de melhorar o atendimento e realizar triagem de acordo com cada doença
  • 120 novas unidades para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e do Grupo de Socorro de Emergência (GSE)
  • Implantação de clínicas e centros de referência com diferentes especialidades como: AIDS, diabetes, clínica da família, diagnóstico de câncer e outras. Cada unidade teria gestão compartilhada (governo constrói e prefeitura administra)
  • Implantação de 11 hospitais referência em todo o estado

Fernando Gabeira (PV)

  • Atendimento integral e universal à saúde. O paciente deve ter o primeiro atendimento em postos de saúde e ser encaminhado para realizar os devidos exames e receber tratamento adequado
  • Criação de unidades de diagnósticos, regionalmente distribuídas, com equipamentos e pessoal qualificados para elaboração de exames de maior complexidade e elaboração de laudos
  • Reformatação do sistema de entrega de medicamentos extraordinários e excepcionais, de distribuição obrigatória e gratuita, o cadastro ficaria sob responsabilidade do município e a entrega a cargo do estado.
  • Implantação da telemedicina

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Opinião: A contradição da saúde no Brasil

por José Reinaldo Nogueira de Oliveira Junior*

06/09/2010
Presidente da Fehosp, José Oliveira, diz que falta de critério adequado do SUS ou a simples insuficiência de verba pública criam sequelas

Em época de campanha eleitoral, a saúde está na boca dos políticos. Não é a toa que o tema seja tão valorizado na busca pelos votos. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Ibope, a saúde é a primeira prioridade de 63% dos entrevistados. Construção de novos hospitais, contratação de mais médicos, distribuição de remédios ao povo. As promessas mudam a cada ano. O que não muda é o desânimo de cada um dos milhões de brasileiros que sofrem nas mãos da Saúde Pública.

Enquanto os políticos fogem da raiz do problema e cuidam de superficialidades, o sistema piora cada vez mais, assim como a saúde do brasileiro. Meses para marcar uma consulta, falta de médicos em postos de saúde e falhas na distribuição de remédios são só algumas das dificuldades que fazem parte do dia a dia de quem precisa do Sistema Único de Saúde (SUS).

A falta de critério adequado do SUS ou muitas vezes a simples insuficiência de verba pública criam sequelas para a saúde pública do País. Como consequência, as Santas Casas e os hospitais beneficentes, que deveriam receber apoio do Estado, recorrem constantemente a emendas parlamentares e doadores, na falta de recursos correntes.

O problema é facilmente perceptível quando se analisa a Tabela SUS, por exemplo. A ferramenta está muito longe do custo dos procedimentos e milhares de quilômetros de distância do preço de mercado. Os valores pagos pelo SUS correspondem, em média, a apenas 60% do custo real, aproximadamente. Em razão disso, problemas financeiros são cada vez mais comuns entre as entidades.

Segundo levantamentos a dívida dos hospitais beneficentes no Brasil chega a R$ 1,8 bilhão. Só no Estado de São Paulo, mais de 23 entidades beneficentes fecharam as portas nos últimos cinco anos. Provedores e administradores têm de procurar diversas alternativas para não terminar o mês com as contas no vermelho, o que infelizmente se tornou corriqueiro.

Como uma forma de solucionar a questão, ou no mínimo amenizá-la, há 10 anos surgiu a Emenda Constitucional 29. Por meio de uma contribuição social, ela destinaria anualmente R$ 12 bilhões para a saúde pública, além de estabelecer um percentual mínimo de investimento para a área. Desde 2008, existe um projeto de lei no Congresso Nacional pedindo a regulamentação da emenda, mas até hoje aguarda votação no Plenário. Apesar de alguns representantes políticos enfatizarem a necessidade da aprovação da EC 29, a falta de comprometimento de tantos outros é grande.

Por mais contraditório que pareça, também não há como negar o avanço do SUS em seus 22 anos. A quase total erradicação da poliomielite, o tratamento avançado da Aids, a criação de uma das maiores redes de transplantes do mundo são algumas das grandes conquistas deste modelo. A questão é: como se explica o fato de que o Brasil pode sanar necessidades tão complexas e se omitir quando o paciente precisa de um simples exame ou de uma consulta com um especialista?

*José Reinaldo Nogueira de Oliveira Junior é presidente da Fehosp